O que tem na nossa vida além do consumo?
Vivemos num mundo que nos empurra a consumir. E tudo é produto: programa de televisão, séries, roupas, viagens. Até mesmo ideias, planos e vontades. Estimulam a gente a aprendermos novas línguas, a fazermos determinados cursos, a comprarmos certos tipos de pensamentos.
E a gente compra. É muito cômodo não ter que pensar profundamente. É muito desconfortável acordar um dia e sentir que não sabemos o que fazer com a nossa vida. Enquanto conseguimos comprar um guia para nos dizer o nosso caminho e um GPS para nos guiar por ele, a gente vai vivendo.
A parte ruim é que, se a gente bobear um pouquinho e perdermos esse foco nas luzes, cores e sabores que o mundo joga pra gente, a gente se depara com um abismo. E então ficamos com aquela nítida sensação de que trabalhamos muito, de que o nosso dinheiro vale cada vez menos, de que o tempo está passando e de que nós estamos vivendo uma vida automática.
Nunca vai ter dinheiro o suficiente. Nunca vamos estar satisfeitos.
O que tem na nossa vida além do ciclo de compras?
A leveza é traiçoeira.
O vazio está logo ali perto.
Ter uma vida sem reflexão, sem se aprofundar na sua própria história e pensar nos seus caminhos, é uma vida muito leve.
Veja: uma vida sem pensar, só indo e se deixando levar? Isso é leve demais. Despreocupada. Quase uma pluma sendo levada pelo vento. Se o vento levar praquela direção, a pluma vai. Se o vento levar para aquela outra direção, a pluma vai. Se o vento levar para uma discussão sobre a política externa de países a milhares de quilômetros daqui, a pluma vai debater. E se levar para uma conversa sobre uma série de televisão, então se conversa. Uma vida leve, sendo guiada pelo entretenimento e consumo, onde consumimos notícias demais, séries demais, informações demais, medo demais, angústia demais, e no meio disso tudo a gente vai flutuando, sendo levado pra lá e pra cá. Manipulados, enganados, sofridos, esgotados.
Uma vida muito leve assim está sempre rondando o vazio de significado.
Como agir contra a leveza tóxica da vida?
Uma vida sem o peso das nossas escolhas é muito leve. Tóxica, mas leve. A gente só vai, sendo levado pelos outros. O marketing nos vende ideias de vida, de cursos, de coisas, e a gente compra essas ideias – às vezes com dinheiro, às vezes com o nosso tempo.
Escolher o nosso caminho e nos responsabilizar por ele é mais pesado.
Porque é justamente o sentido para a vida, o propósito, a percepção de estar construindo algo de útil e válido com o seu tempo, é isso que dá peso à vida. Isso é uma estrada, um caminho. É algo que nos estrutura e nos faz suportar as dificuldades do dia a dia.
Essa estrutura tira a nossa liberdade. Dá mais peso à nossa vida. Mas é ela quem nos segura, que nos dá raízes, que nos ajuda a não sermos levados por qualquer vento.
No fundo, precisamos de algumas correntes.
E a bem da verdade, se a gente não escolher as nossas correntes, o mundo vai escolher pela gente.