Análise do filme “Luca” (2021), da Disney/Pixar, disponível no streaming Disney+.
Contém um pouco de spoilers – mas, de qualquer maneira, esse artigo só vai ser compreendido por quem viu o filme. Se não viu, nem adianta ler.
O filme conta a história de dois mostrinhos do mar, Luca e Alberto, que se interessam em viver junto aos humanos. Quando ficam secos, eles parecem como meninos humanos e conseguem passar despercebidos no vilarejo – mas a falta de hábitos humanos, o desconhecimento da socialização humana e a ausência de vínculos nesse novo mundo causam estranheza tanto neles quanto nos humanos à sua volta.
Luca e Alberto encontram pessoas acolhedoras em seu caminho, como Giulia e seu pai, mas até para essas pessoas os dois meninos tem medo de mostrar a sua verdadeira natureza de monstro marinho. Claro que esse medo não é infundado: o vilarejo humano tem a tradição de caçar e matar monstros marinhos.
Não é fácil ser um peixe fora d’água (analogia perfeita para esse filme).
Pense em um menino de classe econômica baixa vivendo em uma vizinhança de classe econômica alta. Pense em uma pessoa tendo que esconder sua orientação sexual da sociedade para tentar ser mais aceito e “parecer normal”. Pense em uma criança negra estudando em uma escola predominantemente branca. Pense em uma pessoa com transtorno mental tendo que se adaptar em um mundo que pensa diferente dele. Pense em uma pessoa com autismo tendo que viver em um mundo com estrutura diferente. São muitos exemplos, porque são muitos os “monstros marinhos” tentando se camuflar nesse mundo humano.
O nosso mundo caça os diferentes – e inclusive os mata, também.
As pessoas ditas “diferentes” são tratadas como anormais e monstruosas.
Infelizmente vemos que os finais nem sempre são felizes como nesse filme, e por isso vale a pena compreendermos o receio dos “monstros marinhos” da vida real em se assumir como são.
Ainda bem que existem pessoas acolhedoras pelo caminho. O que vale a pergunta: você está acolhendo com carinho os monstros marinhos na sua casa? Na sua vizinhança? No seu trabalho, na sua religião? Porque não se engane. Eles já estão entre nós, assustados, com medo de se assumirem, ávidos por um abraço como qualquer ser humano normal – até mesmo porque debaixo da fachada do diferente, é o que todos nós somos.
adorei essa analise, achei perfeita! nao tinha pensado sobre isso